domingo, 27 de outubro de 2013

ESCOLA: Ensinante e Aprendente



 “Um ser vivo e pensante jamais pode ser reduzido a um simples executante” (Lévy)

Olá pessoas!!!!! Estamos de volta para mais um bate-papo digital. Afinal em tempos de modernidade líquida, ciberespaço e cibercultura, nada melhor para nos mantermos bem informados que um diálogo em rede.
Vamos “falar” um pouco sobre a escola, as tecnologias de informação e comunicação (TICs), e o impacto dessas mudanças na relação aluno, professor e no processo de ensino e aprendizagem. A escola ensinante e aprendente.
Para tanto que tal darmos uma lidinha na tese de doutorado da professora Maria Helena BONILLA, intitulada Escola Aprendente: desafios e possibilidades postos no contexto da Sociedade do Conhecimento (2002) cujo link para leitura está disponível aqui ao lado no Bom para LER.

De antemão podemos perceber que o tema é no mínimo complexo e será grande nossa responsabilidade nesta conversa. Afinal vamos falar de uma assunto que tem sido até tema de tese(s) de doutorado(s). Hummmm. Então como poderemos discutir em poucas linhas um tema que, por si só, já é assunto para milhares de páginas?

Bem, acredito que o melhor será começarmos procurando entender um pouquinho mais sobre alguns dos termos utilizados. Então vamos colocar mãos a obra!! Ops! Digo, mãos no computador e lá vamos nós darmos um rápido mergulho primeiramente no hipertexto.


Em consulta a Wikipédia, (dessa vez resolvi dar um descanso ao meu companheiro de jornada, o dicionário), encontrei a seguinte definição para Hipertexto: termo que remete a um texto em formato digital, ao qual se agregam outros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, palavras, imagens ou sons, cujo acesso se dá através de referências específicas denominadas hiperlinks, ou simplesmente links. Que ocorrem na forma de termos destacados no corpo de texto principal, ícones gráficos ou imagens e têm a função de interconectar os diversos conjuntos de informação, oferecendo acesso sob demandas as informações que estendem ou complementam o texto principal. 

Lévy (1996) afirma que “o virtual não está ai, mas existe”. Bonilla enfatiza que “atual e virtual coexistem, pertencem a um conjunto que reconduz constantemente de um a outro” e a esse movimento chama de realidade. Lemos et al (1999) também entende o “real como o conjunto de processos de virtualização e atualização sucessivas”. Então podemos supor que trata-se de um continuum.

Mas o quê que a escola tem a ver com tudo isso? Afinal, qual o papel da escola frente as tecnologias de informação e comunicação - TICs?

Vejamos. Vivemos uma nova modernidade, ocorreram inúmeras mudanças em todas as esferas imagináveis: políticas, econômicas, sociais, religiosas... E claro que a escola não poderia ficar fora disso tudo. As novas tecnologias da informação e comunicação colocaram frente a escola um grande desafio! E para enfrentar esses desafios tornou-se ímpar a necessidade de uma mudança urgente e permanente.

Como destaca Bonilla, “para que a heterogênese do humano seja cumprida, o processo educativo precisa fazer com que mudanças de natureza aconteçam... Precisa buscar a diferenciação... não a diferença do outro, mas a diferença de si mesmo”.
  
A escola passa a ter um papel maior, que vai muito além da passagem de informações. Ela passa a ter relevância especial na significação dessas informações. Ou seja, a relação entre professor e aluno deixa de ser meramente interação e passa a ser interatividade, ou seja, um movimento entre estas. A construção de significados.

 Mas interação e interatividade não são a mesma coisa? Não. Ainda que sejam termos similares não são sinônimos, ou seja, podemos falar de interação sem necessariamente falarmos de interatividade, que é algo muito mais abrangente. Bonilla destaca que “enquanto a interação nos leva a uma atualização, a um acontecimento, interatividade nos leva a virtualização, a um estado de potência, à abertura de um campo problemático”. Ou seja “temos um movimento entre interatividade e interação... a relação desses fatos com o campo de possibilidades de onde eles emergem e que permitem que apareçam e desapareçam, num devir constante”.
  Assim, a escola passa por uma metamorfose, cria-se uma nova relação entre professor e aluno. Isso é sumamente necessário. Uma reestruturação da escola. Ocorre um "rompimento" com o tradicional, com o método educativo "ditatorial", onde o professor fala e o aluno ouve passivamente. "Ele necessita esperar sua vez de falar, não pode interromper aquele que está com a palavra..." (Bonilla). Resumindo, é parafraseando Boaventura de Sousa Santos em seu Discurso sobre as Ciências: é preciso romper com o paradigma dominante.Mas até onde? E de que forma?

“Transformam-se os papéis desempenhados por professores e alunos em sala de aula”. Com a chegada das TICs as salas de aula há uma "superação das tradicionais relações interativas lineares... Todo emissor é potencialmente um receptor" e vice versa. Assim "constitui-se um ambiente não de emissão, mas de implicação, de interpretação, de atuação, de intervenção, de modo que o usuário não pode ser mais visto como mero receptor" assim o aluno não pode mais ser visto "agente da passiva" no processo educativo. É necessário a escola apropriar-se do sentido de ESCOLA APRENDENTE. Ensinando e aprendendo, num constante movimento de conhecimentos.

A escola e aos educadores emerge a necessidade de mudanças, e mudanças a cada dia. Os desafios mudaram, são outros, as práticas também precisam mudar, ´é necessário mudar os paradigmas tradicionais, torná-los fluidos, para dar conta de caminhar nesse “labirinto” de informações, onde “cada aluno e cada professor constrói sua própria configuração”. 

USE-O


sábado, 19 de outubro de 2013

 

Parte I - Think Different: Estilos de Vida Digitais e Cibercultura como Expressão Cultural


Na semana passada postei aqui um texto sobre a Modernidade Líquida de Bauman, que falava, entre outras coisas, da transição da modernidade pesada para a modernidade leve, e da “redefinição” dos conceitos de tempo e espaço que vieram junto com todas estas mudanças. Enfim, os tempos mudaram e trouxe consigo novos conceitos, novas tecnologias, novos estilos de vida.

Computador, tablet, celular, iPhone, Facebook, msn...
 Tudo isso já faz parte do dia a dia. São novas palavras que passaram a fazer parte dos vocabulários.
 
Por isso que tal falarmos um pouquinho sobre uma dessas novas palavras tão presente no nosso cotidiano e que sempre nos deixa uma interrogação do seu real significado? Vamos conversar um pouquinho sobre CIBERCULTURA.

Confesso que a primeira coisa que fiz foi recorrer ao auxílio do meu grande amigo, o Dicionário, em busca da definição dessa palavra que, apesar de tão presente, nos continua soando como uma “desconhecida”. E eis o que encontrei na minha consulta: Nada!!!! Não encontrei a palavra e sua definição. Simplesmente ainda não existe essa palavra no nosso dicionário (o impresso - a nova versão atualizada conforme nova ortografia). Ou seja, isso nos leva a supor que a cibercultura ainda seja uma palavra com a definição em construção.
 
Então lá vou eu escarafunchar primeiramente o texto de Erick Felinto intitulado: Think Different: Estilos de vida digitais e a cibercultura como expressão cultural, disponível para consulta aqui do lado no Bom para LER

No finalzinho do segundo parágrafo do artigo temos a seguinte afirmação relacionada a cibercultura: “Sempre nova, sempre em transformação, sempre maleável, a cibercultura nos propõe uma ruptura radical com o passado e, ao fazê-lo, nos coloca em um estado permanente de inquietação”. Uma nítida relação com a Modernidade Líquida de Bauman, ainda que não tenha nenhuma referência acerca dessa similaridade explicitada no texto.

Continuando a leitura encontramos o seguinte trecho também referente a cibercultura: “Jovem e insubordinada ela carece de personalidade estável”. Finaliza com a citação de Trivinho dizendo que ela "equivale a um processo social-histórico bem mais vasto e complexo do que supõe o imaginário da pesquisa especializada". Enfatiza que "são raríssimas as ocasiões que a expressão se faz acompanhar de alguma tentativa de definição" revelando-se como "algo que não carece de maiores elucidações".

Isso me faz pensar na “Metamorfose Ambulante” que já na década de 70 era cantada por Raul Seixas. Ele mesmo o "Maluco Beleza", na canção que fez em parceria com Paulo Coelho. Afinal quais palavras definiriam melhor e seriam mais convincentes para referir essa instabilidade da vida moderna? Essa metamorfose digital que reflete cada vez mais e com mais intensidade nos estilos de vida e na cultura, de forma globalizada, inclusive no ambiente escolar, que também vivencia essa "metamorfose ambulante" que se nega a ver as coisas como antes e se recusa a ter "aquela velha opinião formada sobre tudo".

"Saudemos os loucos, os desajustados, os rebeldes, os encrenqueiros..." Será que ele quis dizer saudemos os "Malucos Beleza"? Aquelas pessoas "loucas o bastante para pensar que podem mudar o mundo" e que "são capazes de efetivamente fazê-lo" por acreditarem. Quem sabe? 

Difícil tarefa de definir algo que muda com a "velocidade da luz". Complexo definir um espaço, uma cultura, que fisicamente não existem. Como disse Bauman, o tempo e o espaço mudaram, a cibercultura e seu ciberespaço são a nova concepção de tempo e espaço da modernidade fluida, que desafia as leis da física e até mesmo da lógica.

Mas vejam só. Voltando a questão da escola e do ciberespaço, narro um fato ocorrido esta semana. Fui em uma Livraria comprar um livro, um Dicionário de Filosofia mais precisamente. Isso mesmo!!! Preciso melhorar meu conhecimento sobre essa área e nada melhor que um dicionário sobre o tema para dar uma turbinada no meu lado filosófico. Enfim, ao entrar na livraria eis que uma capa vermelha de uma revista me chama atenção e, como não poderia deixar de ser, parei para verificar o conteúdo desta capinha vermelha que aguçou instantaneamente minha curiosidade.

Gente, eu acredito que tudo conspira a nosso favor, e para minha surpresa e alegria essa capinha vermelhinha tratava-se de uma edição da revista EDUCAÇÃO, cujo tema de capa era nada mais, nada menos que “Professor 3.0”!!! Pois é, a cibercultura dentro da escola, plena e absoluta.

O texto, que sinceramente adorei, falava sobre a nova geração de professores, as novas relações com as escolas e com os alunos, os novos espaços de aprendizagem para além dos muros das escolas, enfim, o impacto da cibercultura no novo contexto escolar. Vale a pena dar uma lidinha nessa revista, os textos escritos de forma bem simples, com uma linguagem idem, e o tema bem interessante e atual. Só não encontrei a versão on-line, ainda, mas de qualquer forma vale a pena ir na banca, afinal para entendermos esse mundo da cibercultura temos que ficar antenados de todos os lados.

Gente, a cibercultura está em todo canto! No supermercado, no hospital, no banco, na farmácia, e claro, também na escola. Dessa forma torna-se fundamental buscar um conceito que a defina e isso também pode ser trabalhado de forma interdisciplinar. Felinto destaca que “entender toda a cibercultura como uma formação cultural nos permite, ir além... Estabelecendo uma compreensão do termo que envolve tanto discursos sociais e narrativos ficcionais quanto realidades tecnológicas e práticas comportamentais e de consumo”.  Destaca que em decorrência de “sua amplitude e indefinição crônicas” a cibercultura é aproximada da ”comunicação como um saber nebuloso, transdisciplinar e em constante reavaliação de suas fronteiras” fluidas.

Toda essa nova cultura cibernética se apresenta também como um desafio para a escola e para o educador, que deve saber dosar de forma equilibrada essa fluidez com intuito de beneficiar todo processo educativo. “Enfrentar adequadamente esses desafios exigirá concepções epistemológicas renovadas e uma forma de produzir conhecimento menos avessa à incerteza, aos híbridos e, quem sabe, à poesia e ao imaginário”. (Felinto). É preciso literalmente think different (pensar diferente).


OBS,: A tarefa em busca da Cibercultura ainda não chegou ao fim. AGUARDEM, a "Parte II - a missão" vem aí. Leiam logo abaixo.

   

Parte II - Subculturas e Cibercultura(s): para uma genealogia das identidades de um campo


Ontem falamos sobre a cibercultura, de sua indefinida definição, dos novos estilos de vida digitais, relembramos Bauman, entramos nos desafios da cibercultura no contexto escolar, etc. 

Bem, agora vamos falar da definição (ainda indefinida) de cibercultura e de sua(s) subcultura(s) e da origem dessas. Para tanto vamos percorrer as linhas do artigo de Adriana Amaral, cujo título é Subculturas e Cibercultura(s): Para uma genealogia das identidades de um campo, disponível para leitura também aqui ao lado, no Bom para LER.

O objetivo do trabalho foi “mapear as relações quase indistintas entre os processos de comunicação e sociabilidade de ordem subcultural, que já estavam presentes na constituição da cibercultura”. 

Mas afinal, o que é cibercultura?

Cibercultura é  a cultura que surgiu, ou surge, a partir do uso da rede de computadores através da comunicação por meio de computadores, a indústria do entretenimento e o comércio eletrônico. É também o estudo de vários fenômenos sociais associados à internet e outras novas formas de comunicação em rede, como as comunidades on-line, jogos de multi-usuários, jogos sociais, mídias sociais, realidade aumentada, mensagens de texto, e inclui questões relacionadas à identidade, privacidade e formação de rede.
 (Wikipedia).

Vale destacar que ainda não existe um consenso para o conceito e a definição de cibercultura , ou seja, ainda está em processo de construção, por isso a relevância de trabalhos e pesquisas sobre o tema.

E subcultura? O que é isso?

Esta pode ser entendida como conjunto de elementos culturais específicos de certo grupo social, como um micro-grupo que pode coexistir pacificamente na sociedade ou constituir uma subcultura desviante, relativamente ao padrão cultural dominantes, imposto pelas elites que têm uma influência sócio-política e econômica decisiva. (http://subculturasecontraculturas.blogspot.com.br/p/definicao-de-subcultura-e-contracultura.html).

Adriana Amaral complementa dizendo que “assim, articulamos dois quadros teórico-conceituais aparentemente distintos, os estudos subculturais e as teorias da cibercultura com vistas a um refinamento do próprio conceito de cibercultura (ou seriam ciberculturas?)”, diz a autora. 

Felinto (2007) destaca , também,  que a “ cibercultura é, nesse sentido, herdeira de diversas questões da modernidade. Elaborar uma cartografia da cibercultura significa também, portanto, desenhar linhas de tempo, paisagens temporais estranhas que conectam épocas distantes e se enraízam no secular projeto tecnológico do Ocidente”.  

Resumindo, para entender a genealogia da cibercultura é imprescindível realizar uma viagem nas subculturas, “é hora das (sic) ciências sociais também transitarem da subcultura ao sprawl” (alastrar; espalhar. Referência a trilogia Ciberpunk escrita por William Gibson). (Canevacci, 2005).

Mas, e como fica a educação? Como atender as demandas dessa nova geração digital? O que se esperar do futuro que já chega com um pé no futuro? A escola e o educador estão preparados para lidar com este “novo alunado”? Como educar os "nativos digitais?


A nova geração chega com um pé no futuro! Os desafios, em todas as esferas, mudaram. São outros. Como a escola deve se preparar para esse desafio que se coloca e que se desloca a cada momento?
Pessoal muito legal essa atividade no Shopping Salvador. 
Divulguem, é gratuitooooo!!!

O quê: 10ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia
Onde: Estacionamento L1 – Salvador Shopping
Quando: 19 a 27 de outubro de 2013
Horários: Segunda a sexta, das 9h às 20h; aos sábados, das 9h às 21h; aos domingos, das 13h às 21h;
Evento gratuito e aberto ao público

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

1ª Simpósio Baiano sobre a Infância e a Educação Infantil

I SIMBIEI - I SIMPÓSIO BAIANO SOBRE A INFÂNCIA E A EDUCAÇÃO INFANTIL, um evento sob a coordenação do GESTAR (GRUPO DE ESTUDOS EM TERRITORIALIDADES DA INFÂNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE) a ocorrer no campus da UESB de Jequié no período de 26 a 29 de novembro de 2013.

Maiores informações:

http://www.gesto.pro.br/simbiei/

domingo, 13 de outubro de 2013

The Climb - Legendado "Orgulho de ser FISIOTERAPEUTA"

                                                  

Feliz Dia do Fisioterapeuta - a todos aqueles que usam as mãos para tornar o mundo um lugar melhor.

"Ser Fisioterapeuta é ter duas mãos e um coração entre elas" (desconhecido)

sábado, 12 de outubro de 2013

Pode entrar, a casa é sua!!!!

Olá pessoas!!! Este Blog é feito para todos aqueles que gostam de compartilhar conhecimentos. Então se você se encaixa neste perfil sinta-se a vontade para opinar, sugerir, criticar, elogiar... Enfim, sinta-se a vontade para contribuir para que o Blog fique cada dia melhor e mais cheinho de informações úteis e interessantes.

Inicialmente os assuntos aqui abordados serão referentes a Fisioterapia, Educação, Tecnologias e Comunicação (ETC...), e também seus correlatos. Mas isso não significa que não possamos dialogar sobre outros temas, afinal, não existe um ponto final para o conhecimento. Por isso esse Blog estará sempre aberto a sugestões, em uma busca constante por melhorias.

Enfim, está dado o primeiro passo. Agora é arregaçar as mangas e sair em busca de informações Fisioterapêuticas, ETC e tal...

Líquida Modernidade - Reflexões


“Assim, toda questão se reduz a isto: pode a mente humana dominar o que a mente humana criou? “ (Valéry).

Acabo de ler partes do livro de Zygmunt Bauman, Modernidade Líquida (2001). Gente, confesso que fiquei meio intrigada com este título. Afinal que relação é essa entre a liquidez e a modernidade? De onde será que o autor tirou a idéia de fluidificar a Modernidade assim como se esta fosse uma matéria física?

Enfim, iniciei a leitura com a mente em transe, cheia de expectativa e curiosidade percorrendo-a, delineando os contornos do meu cérebro, cada um de seus lóbulos, como sangue fluido de vida que percorre nossos corpos, o alimenta e possibilita a vida.

Será que o autor ao escrever o livro sobre liquido e modernidade pensou no nosso sangue? Nas inúmeras células, nutrientes e diversas substâncias que o mesmo transporta, em um trabalho incansável e ininterrupto para manter nossas partes sólidas funcionando, trabalhando juntos e harmonicamente para nos manter vivos. Será que ele pensou neste processo, enxergando nele os atores e contextos sociais ao longo da história?

Ler este livro é como fazer uma verdadeira viagem sociológica ao longo da história. Visitamos a solidez, passamos pela desintegração do sólido, fazemos um tour através da liquidificação social e por fim aportamos na liquidez propriamente dita.O texto é atualíssimo, apesar de ter sido escrito há 12 anos atrás.

Ao passear pelo sólido social, sua raiz, tradição e a posição ocupada pelo tempo nesta sociedade, lembrei-me da história de Charles Darwin, do contexto sólido em que o mesmo viveu. No trabalho de uma vida que resultou no livro “A Origem das Espécies”. Trabalho extraordinário (por não encontrar palavra mais adequada, porque o que Darwin fez foi simplesmente muito mais que extraordinário).

Darwin levou quase 30 anos para publicar seus estudos e descobertas. Por mais que ele soubesse da relevância dos seus estudos, existiam mais coisas em jogo. Quase 30 anos para “vencer” o sólido tradicionalismo de sua época. Trinta anos colocando na balança o individual e o coletivo. Talvez, a frase de autoria do próprio Darwin resuma seu sentimento diante da solidez e da liquidez: “ Não são as espécies mais fortes que sobrevivem nem as mais inteligentes, e sim as mais suscetíveis a mudanças”.

A liquidez não possui forma definida, se molda de acordo as circunstâncias, é fluida, menos densa e temporária. Sendo justamente esta temporalidade que diferencia de forma mais acentuada as sociedades sólidas e líquidas. Ou seja, o passado e o presente. Coletivo e individual.

A facilidade e rapidez com que as mudanças ocorrem na modernidade líquida, a vertiginosa necessidade de mudar, o pragmatismo característico desta sociedade, a tendência a predominância do individual em detrimento do coletivo, a falta de alicerces, a solidão e “ausência” de bases na construção de identidades, a busca incessante por liberdade, são as características marcantes desta liquidez moderna.

E quais as conseqüências e impactos dessas mudanças? Percebemos ao percorrer o prefácio do livro que essas mudanças atingiram primeiramente a economia, e posteriormente mostrou grande impacto nas relações sociais, que foram colocadas em segundo plano, tudo em detrimento da necessidade de auto-afirmação individualizada.

Essa individualização e seu desfecho social podem ser percebidos no crescimento desenfreado das redes sociais, ou sociedades on-line, onde cada vez se conhece superficialmente mais pessoas, porém os laços sociais estão cada vez mais afrouxados.

Ainda que este livro tenha sido escrito há mais de uma década, seu conteúdo está mais atual do que nunca. “Os sólidos que estão para serem lançados no cadinho e os que estão derretendo neste momento, o momento da modernidade fluida, são os elos que entrelaçam as escolhas individuais em projetos e ações coletivas – os padrões de comunicação e cooperação entre as políticas da vida conduzidas individualmente, de um lado, e as ações políticas de coletividade humana, de outro” (Bauman)

Talvez seja o momento de repensar os conceitos, e de “re-solidificar” certos valores, antes que a frase de Valéry, colocada no início do prefácio tenha uma resposta. Ou seja, a necessidade de mudanças antes que a mente humana não mais consiga dominar o que a própria mente humana criou.

Ao continuar a leitura, no capítulo 3, o autor discorre sobre o tempo e o espaço. Analisa a comunidade, a idealização de uma cidade dos sonhos, diferente das cidades comuns e os altos custos dessa utopia de Hazeldon, do ponto de vista financeiro e principalmente social. “A comunidade definida por suas fronteiras vigiadas de perto”.

Acredito que não precisaríamos nem mesmo ir tão longe para vermos essa nova sociedade, já vivemos aqui e agora a sociedade vigiada, com suas fronteiras cada vez mais definidas e bem delineadas. Enfim, vivemos uma sociedade que perpetua o que Bauman definiu como a “ política do medo cotidiano” funcionando como antagonistas do bem viver.

Essa “nova” ordem social vem provocando desajustes em todas as esferas da convivência humana, inclusive causando transtornos psicológicos que provocam devaneios de riscos e perseguições. Tendo em vista a definição de cidade utilizada pelo autor: assentamento humano em que estranhos tem a chance de se encontrar.

Destacando a palavra “chance” que caracteriza oportunidade, percebemos que os danos sociais provocados por essa característica de medo constante até mesmo do invisível tem feito com que as pessoas percam essa chance, dos encontros, do coletivo, da possibilidade de encontros bambúrrios.

Assim, indo em direção oposta a sua definição, as cidades tem se tornado cada dia mais um grande aglomerado de desconhecidos, de estranhos, e esse distanciamento torna-se cada dia mais profundo. Vivemos a sociedade dos amigos virtuais, da segurança insegura das relações anônimas.

Perpetuam-se os templos do consumo, e cresce vertiginosamente os adeptos, que “levam com elas companhias de que queiram gozar (ou toleram), como os caracóis levam suas casas nas costas”.

Gente, isso me faz lembrar do “novo Carnaval de Salvador”, com os camarotes distanciando e transformando a cultura popular, de forma silenciosa, discreta, mas não menos perigosa no que tange as relações humanas. “O que quer que possa acontecer dentro do templo do consumo tem pouca ou nenhuma relação com o ritmo e teor da vida diária que flui fora dos portões”.

Quando Bauman afirma que a principal característica da civilidade é a capacidade de interagir com estranhos sem utilizar essa estranheza contra eles e sem pressioná-los a abandoná-la ou renunciar a alguns dos traços que os fazem estranhos, é como ver em um espelho a nossa civilidade não civilizada. Desaprendemos ao longo dos tempos a perceber a magia dos encontros, passamos a ser uma sociedade narcisista, queremos ver nos outros nossos próprios reflexos.

Aprender a conviver com as diferenças é uma tarefa que não se aprende sozinho, é preciso interação, exercício da prática. Logo isso me leva a pensar aonde estamos indo? Para onde caminhamos? Onde chegaremos?

Vivemos uma sociedade patológica, como o autor destaca, a patologia do espaço público (esvaziamento e a decadência da arte do diálogo e da negociação, e a substituição do engajamento e mútuo comprometimento pelas técnicas do desvio e evasão). Mantemos distância dos estranhos, e terminamos por nos tornamos esse estranho.

A modernidade redefiniu o tempo e o espaço. Tornou-os pragmáticos. A sociedade da tecnologia, a supervalorização do tempo em detrimento do espaço, e o individual frente ao coletivo. Passamos de uma sociedade pesada para uma sociedade leve, leve em tempo, porém sem espaço para as relações humanas.  

"Conheçam todas as teorias, dominem todas as ciências, mas ao tocar uma alma humana, sejamos apenas outra alma humana" Carl Jung.